UM PAPA BRASILEIRO ?
Para se tornar Papa, o melhor
caminho é não se lançar como candidato. Esta é uma crença que se mantém há
séculos. Um pensamento era comum entre os estudiosos da Igreja, o de que o próximo
Papa seria um italiano, e ele já tinha um nome: Dionisi, o arcebispo de Gênova.
Mas as apostas foram parar em outro continente. Em maio deste ano, num
consistório extraordinário, 44 novos cardeais foram escolhidos pelo Papa João
Paulo II, 11 deles da América Latina. Começou-se a pensar seriamente num
latino-americano como sucessor do trono de São Pedro.
O especialista em Vaticano, Marco Police diz que é grande a possibilidade do
próximo Papa vir a se chamar João Paulo III. O que o vaticanista quer dizer é
que um latino-americano pode assumir o papado e homenagear o atual com o nome
dele.
Entre os que receberam o chapéu vermelho das mãos do Papa, o maior colégio
cardinalício da História, estava o brasileiro Dom Cláudio Hummes, arcebispo
de São Paulo. Até então ele era apenas um nome entre tantos outros. Menos de
cinco meses de passaram e o franciscano se transformou num forte candidato à
sucessão papal.
“Eu não hesito em dizer que o primeiro da fila é o cardeal brasileiro”:
o vaticanista Sandro Magister diz que a informação vem de fontes de grande
credibilidade, da diplomacia do Vaticano. “Dom Cláudio nesse momento é
apreciado tanto pela esquerda como pela direita”, disse ele.
O arcebispo de São Paulo brilhou esta semana em Roma, quando disse diante do
Papa que a guerra é o pior caminho para a solução de conflitos, ainda que a
auto-defesa seja legítima: “Existe uma apreensão muito grande sobre as
conseqüências de uma escalada bélica e militar”, diz Dom Cláudio.
Quem escolhe o Papa? Os católicos acreditam que é o Espírito Santo. Mas o
Conclave, a assembléia que elege o pontífice, não é um evento milagroso. É
um longo estudo que silêncio que começa com o chefe supremo da Igreja ainda
vivo. É uma investigação minuciosa de nomes, comportamentos, personalidades.
Os cardeais observam e são observados.
O nome de Dom Cláudio Hummes subiu porque o do italiano Dionisi saiu das
preferências. O cardeal italiano apoiou o movimento antiglobalização. A violência
das manifestações de Gênova o afastou do páreo.
Um Papa de transição poderia ser uma alternativa: um Papa de idade avançada
para conduzir um pontificado breve e tranqüilo, até que surja um sucessor
ideal. Isso já aconteceu algumas vezes na História, mas esta é uma
possibilidade arriscada e pode não se concretizar. Alguns equívocos já foram
cometidos em nomes de Papas de transição. Leão XIII, por exemplo, foi eleito
para ficar pouco tempo, mas viveu 25 anos.
Um Papa latino-americano teria pela frente desafios importantes, como a justiça
social. Para o brasileiro Dom Cláudio Hummes estar próximo ao movimento carismático
não é uma desvantagem, ao contrário.
“Uma das principais dificuldades da Igreja na América Latina é o
crescimento das seitas protestantes e dos novos cultos, que vêm roubando muito
fiéis. O movimento carismático pode frear esta tendência”, explica o
vaticanista Sandro.
Gaúcho de Monte Negro, Dom Cláudio, 67 anos, é representante de uma igreja
popular. Na década de 80, como bispo de Santo André, foi mediador na greve dos
metalúrgicos. Em abril de 98, deixou a arquidiocese de Fortaleza para assumir a
maior arquidiocese brasileira, a de São Paulo, com sete milhões de católicos.
Hospedado no colégio Pio Brasileiro, em Roma, o cardeal é cauteloso.
Prefere ignorar as especulações que o apontam como provável sucessor de João
Paulo II. “Eu não gosto de falar sobre esse assunto porque estou muito feliz
com o nosso Papa. Ele tem um carisma... Nós estamos pensando na saúde dele e
que possa continuar mais e mais com a gente”.